quarta-feira, 26 de agosto de 2009

IV - Paciência


" Mantinha viva a esperança de ele voltar... Era tudo tão calmo e, de repente, ficou tudo estranho...
Aquele lugar era belíssimo... as árvores enormes que me rodeavam, deixando nu o céu azul, rosa, violeta, típico do fim do dia... o chão suave que emanava o cheirinho a erva molhada... os raios de sol que escapavam por entre as árvores, que se uniam para formar aquela casa tão invulgar...
Mas de que me adiantava o ambiente de sonho, se interiormente mergulhara num pesadelo total?
Sentia-me magoada... não me importava o banho ou o cabelo desalinhado ou o descanso perdido... Teria primeiro de recuperar Angel...
Encostei-me a uma das árvores/ paredes... Angel dissera: "O facto de agora estares aqui presa implica muitas mudanças da tua parte... precisas de encarar a realidade e facilitares a tua vida... precisas de sonhar e de lutar por esses sonhos... precisas de enfrentar o que te impede de realizar os teus sonhos e de saber lidar com tudo isso... só assim, serás feliz, realmente! ", e : "não é a distância que afasta duas pessoas... acredita! ".
Humm... Em primeiro lugar, eu não lidava muito bem com mudanças... assustavam-me, principalmente quando eram repentinas.... para enfrentar os meus problemas, tinha de pensar.... tinha de encarar os problemas para saber dar-lhes resolução.... só depois realizaria os meus sonhos (que mundo tão esquisito!)... Ora, recuperar Angel era um sonho... logo, isso implicaria um problema por resolver... mas qual???
Senti um arrepio... "Não é a distância que afasta duas pessoas..."... Ele estaria a ver-me do alto de alguma árvore? Delírio... ou talvez... não fosse bem um delírio... Eu e Angel estávamos no mesmo mundo... logo...
- Angel, regressa aqui antes que eu queime a floresta toda de tanto pensar!
Esperei, silenciosamente. Nada.
Levantei-me. Comecei a andar de um lado para o outro, impacientemente. Talvez... humm, seria esse o meu problema? Impaciência...
De facto, não era grande apoiante da paciência... esperar demasiado por algo dava cabo de mim... Fervilhava quando não descobria as coisas logo à primeira...
Aquele Angel! Primeiro diz que estou preparada e depois faz estes joguinhos comigo! Que paciência!
Parei no meio daquele "salão" enigmático. Respirei fundo. O ar que inalava queimava por dentro. Olhei para as minhas mãos e tremiam. Baixei-as, fechei-as num punho, e voltei a respirar fundo. Pensava: "Calma, Jessie, tu consegues!". Fechei os olhos. Respirei fundo vezes e vezes sem conta. Comecei a sentir-me muito mole. Sem dar por isso, as minhas mãos descontraíram-se, deixando de estar fechadas. O ar já não me queimava. Abri os olhos... Era de noite, pela primeira vez, naquele sítio bizarro, mas estranhamente confortável.
- Ok, Angel... eu sei que estás aí! Eu sinto a tua presença... humm... algures por aqui... Queres que eu seja paciente... Desconfio que isso seja uma maneira de enfrentar não só o problema da tua ausência, mas muitos dos problemas que me irão alcançar durante toda a vida... Ficas a saber que mudanças, não são o meu forte... Mas também terei de enfrentar isso... - parei e suspirei - Tudo o que me atormenta, eu escondo dentro de mim... Tenho sonhos, mas quando algo corre mal, desanimo... Falta-me a paciência... Falta-me a capacidade de erguer imediatamente a cabeça e dizer: Eu consigo, só preciso de lutar!... Voltei para aqui para fugir da realidade... Mas a realidade e o sonho não vivem um sem o outro... Por isso, estou aqui! Quero que saibas que... preciso de ti para viajar no meu próprio mundo... Preciso de ti para ser feliz! Preciso de ti e de ser paciente... Não quero que seja a minha impaciência a afastar-nos... Porque se a distância não o faz eu também não o vou fazer!
Calei-me... Sentei-me na erva... Estava calma e aliviada. Mesmo que o meu discurso não resultasse, eu não iria desistir... Iria ser paciente.
Embrenhei-me no meu pensamento. Senti umas mãos a tapar-me os olhos. Sorri. Reconheci aquele toque. Resultara.
- Espero que não te arrependas do que disseste!
- Angel, não me vou arrepender!
- Eu sei que não... eu sei que não...
Agarrei-lhe nas mãos e virei-me para o enfrentar.
- Não me voltes a fazer isto... prometo ser paciente, mas não prometo que irei resistir a dar-te um valente puxão de orelhas.
Mais do que a lua e todas as estrelas do céu, Angel iluminou-me com o seu sorriso. Abracei-o. Ele apertou-me contra si e sussurrou-me ao ouvido:
- Serei sempre teu amigo e estarei aqui até ao fim! Agora, banho e jantar!
Afastou-me de si e passou a mão pelo meu cabelo. Escondi a cara no seu peito com vergonha do estado lastimável da minha higiene.
Fui-me a lavar ( a casa-de-banho era lindíssima! o duche era na "realidade" uma cascata belíssima!) e quando regressei ao "salão", estavam um jantar que cheirava imensamente bem e Angel à minha espera. Jantámos, rimo-nos e, por fim, adormecemos os dois encostados a uma árvore, abraçados um ao outro para enfrentar qualquer pesadelo que se intrometesse no Mundo dos Sonhos!
Eu não enfrentava bem as mudanças repentinas... Mas o regresso de Angel levou-me a acreditar que é possível enfrentar qualquer mudança, desde que se seja paciente!"

JMF*10

1 comentário:

Jorge Saraiva disse...

Finalmente, um toque de cor! Este capítulo mostra um pouco da tua personalidade... O meu conselho: mantém a "cabeça fria".
«O mundo está em constante mudanças», como dizia Achel.