sábado, 4 de outubro de 2008

Tempo... Um mistério por desvendar...

Era uma menina. Pequena, pequenina.
Estava, sossegada, a olhar o mar. Os seus olhos brilhavam, sob a luz quente daquele magnífico pôr-do-sol.
O dia ia-se escondendo, tímido e pacato, como quem não quer dar nas vistas.
A noite ia surgindo, calmamente.
Aquela menina, pequena, pequenina, era uma doce estrela, um meigo anjo, que ia reaparecendo, levemente, com o luar, que iluminava toda a escuridão que tentava surgir.
Pessoalmente, não a queria incomodar. Sentei-me no areal, fino e ameno. A brisa fazia bailar os meus cabelos. E os da menina, também.
Aquele era o sítio ideal. Ideal para pensar, para reflectir... Para navegar e revoltear as páginas adormecidas da vida.
Aquele silêncio acolhedor. Um grito mudo e ensurdecedor que ecoava no meu peito, que queimava a minha alma e reacendia o meu ser.
Mirei aquela menina, pequena, pequenina. Não sabia porquê, mas aquele ser, inocente e inofensivo, despertava em mim um EU adormecido.
Deitei-me.
Desisti de tentar encontrar a resposta para um turbilhão de questões, para um milhão de emoções, para uma infinidade de sensações.
Fechei os olhos e abri o meu coração. A brisa, o som das ondas a ir e a voltar, o vento suave a assobiar, a imagem daquela menina a olhar o mar...
Senti-me vazia. E, ao mesmo tempo, cheia. Vazia de um nada infinito, de um tudo eterno... Cheia de recordações enfraquecidas pela voz do esquecimento, pela mágoa do pensamento.
O tempo percorria em direcção ao futuro, deixando para trás o passado e, presenciando o presente. Voava, levando consigo todas as horas, todos os minutos, todos os segundos que eu queria agarrar e guardar num cantinho do meu cofrezinho de emoção. Esses pedacinhos que iam sem voltar, que tentavam arrancar-me os momentos que preenchem a vida e exploram o mais profundo de cada um de nós.
Levantei-me. Um arrepio percorrera a minha pele, fizera vacilar o meu espírito.
Olhei em redor. A menina, pequena, pequenina, abalara. Só a noite ficara. A lua e as suas estrelinhas. A imensidão do mar e a escuridão iluminada. O eco da solidão e o rasto da saudade.
Um pedaço da minha vida que o tempo tinha levado.
JMF*10

2 comentários:

Anónimo disse...

Um dia, todos nós nos sentaremos nessa praia e descobriremos que a criança que vive em nós se está a esfumar.
Resta saber como iremos reagir a isso.

Texto lindo [que eu li antes do resto da turma :D]

Beijos

Anónimo disse...

Ja não sei o que escreves melhor, poesia ou prosa, mas a verdade ' que este textinho está fantástico!

Parabens :D