sábado, 11 de outubro de 2008

A Piramide




Tantos dias radiantes, cheios de sol que passei a construir a maior pirâmide alguma vez vista. Não planeei construi-la, apenas aconteceu, mesmo assim tinha sido uma ideia que me deixava feliz, realizada, tinha sido uma ideia que agora estava a ser concretizada e que fazia parte de mim. não vivia sem aquela construção, não vivia sem a completar a cada dia que passava...

Os dias radiantes e cheios de sol pararam, a chuva reinou durante alguns segundos, não foi muito tempo, mas chegou para destruir grande parte do que tinha construído, com ela chegou o vento, juntando-se a toda aquela destruição e levando consigo toda a confiança adquirida ao longo dos dias de sol.
De um momento para o outro, a força gasta a carregar cada pedra, o suor perdido em todos os planos, os sorrisos feitos ao olhar a pirâmide no por-do-sol, as lágrimas de felicidade, os gritos de dor, as pausas de tanto cansaço, as birras por não ter conseguido alcançar tanto quanto desejei, o tempo dedicado aos pormenores, os sonhos provenientes de esperanças, as expectativas de cada momento, os pulos de contentamento, as falas comigo própria, os escaldões que incharam a minha pele, as feridas nos pés, os esforços, os medos, os calos nas mãos e por fim o orgulho de tudo aquilo foram destruídos por um instante.
O perfeito passou a arruinado num segundo inconstante. Senti que a minha vida havia sido levada pela corrente junto de toda a areia e de todas as pedras que carreguei.
Senti-me a esvaziar, senti-me confusa, sem objectivos, sem mim.

Os dias de sol regressaram e aproveitei outras rochas trazidas pela chuva para construir a pirâmide de novo, talvez sabendo que segundos de vento e gotas de água voltariam a aparecer mas consciente de que a minha vida era muito menos sem ela...

(Todos os dias acartamos pedras e construimos a nossa pirâmide, continuamos com expectativas ate chegar um dia de Diluvio... Quanto mais forte e resistente for a pirâmide mais difícil será de destruir, portanto o esforço, planos e entusiasmo diário nunca são desnecessários e se um dia a pirâmide cair, um esconderijo isolado será aliciante, mas a mente humana necessita sempre de uma ocupação e esta não desiste de construir a sua própria historia)

Inês Corveira
11ºC - nº13

sábado, 4 de outubro de 2008

Tempo... Um mistério por desvendar...

Era uma menina. Pequena, pequenina.
Estava, sossegada, a olhar o mar. Os seus olhos brilhavam, sob a luz quente daquele magnífico pôr-do-sol.
O dia ia-se escondendo, tímido e pacato, como quem não quer dar nas vistas.
A noite ia surgindo, calmamente.
Aquela menina, pequena, pequenina, era uma doce estrela, um meigo anjo, que ia reaparecendo, levemente, com o luar, que iluminava toda a escuridão que tentava surgir.
Pessoalmente, não a queria incomodar. Sentei-me no areal, fino e ameno. A brisa fazia bailar os meus cabelos. E os da menina, também.
Aquele era o sítio ideal. Ideal para pensar, para reflectir... Para navegar e revoltear as páginas adormecidas da vida.
Aquele silêncio acolhedor. Um grito mudo e ensurdecedor que ecoava no meu peito, que queimava a minha alma e reacendia o meu ser.
Mirei aquela menina, pequena, pequenina. Não sabia porquê, mas aquele ser, inocente e inofensivo, despertava em mim um EU adormecido.
Deitei-me.
Desisti de tentar encontrar a resposta para um turbilhão de questões, para um milhão de emoções, para uma infinidade de sensações.
Fechei os olhos e abri o meu coração. A brisa, o som das ondas a ir e a voltar, o vento suave a assobiar, a imagem daquela menina a olhar o mar...
Senti-me vazia. E, ao mesmo tempo, cheia. Vazia de um nada infinito, de um tudo eterno... Cheia de recordações enfraquecidas pela voz do esquecimento, pela mágoa do pensamento.
O tempo percorria em direcção ao futuro, deixando para trás o passado e, presenciando o presente. Voava, levando consigo todas as horas, todos os minutos, todos os segundos que eu queria agarrar e guardar num cantinho do meu cofrezinho de emoção. Esses pedacinhos que iam sem voltar, que tentavam arrancar-me os momentos que preenchem a vida e exploram o mais profundo de cada um de nós.
Levantei-me. Um arrepio percorrera a minha pele, fizera vacilar o meu espírito.
Olhei em redor. A menina, pequena, pequenina, abalara. Só a noite ficara. A lua e as suas estrelinhas. A imensidão do mar e a escuridão iluminada. O eco da solidão e o rasto da saudade.
Um pedaço da minha vida que o tempo tinha levado.
JMF*10

Os Peixinhos no Oceano

Passa-se algo estranho com os Portugueses. E não me estou a referir a nenhuma crise de identidade, financeira ou de valores, nem tão-pouco ao tão aclamado pessimismo que parece caracterizar os nossos conterrâneos. Falo, sim, de algo de que me apercebi há já algum tempo, mas a que nunca prestei muita atenção: a falta de interesse dos jovens relativamente ao seu país.
Um exemplo: se perguntarmos a um adolescente quem são os candidatos à presidência dos Estados Unidos, há grandes probabilidades de os ouvirmos responder, com maior ou menor convicção, Obama e McCain. Contudo, se indagarmos quem são os líderes dos partidos portugueses, poderemos obter respostas balbuciadas e vacilantes, algumas erradas ou incompletas, ou até mesmo não obter nenhuma. Pior ainda, poderíamos ouvir algo como não me interesso por política, isso é para velhos ou não tenho idade para votar.
O problema é que o facto de se ter menos de 18 anos não deveria ser um impedimento à nossa condição de cidadãos consciencializados, mesmo que não tenhamos responsabilidades civis nem que não sejamos considerados adultos. Afinal, mais cedo ou mais tarde, atingiremos a maioridade. Então, como irá ser? Assim que atingirmos a idade mágica, passaremos a saber tudo sobre a sociedade, economia, política e outros assuntos do país e do mundo? Se com a maioridade vem um pacote de conhecimentos desse género, por que razão andamos na escola, sendo ensinados a raciocinar e argumentar? Para passar o tempo? Não me parece e admito que não é uma perspectiva lá muito animadora.
O que nem todos os adolescentes compreendem é que estamos a crescer para, um dia mais tarde, sermos adultos e tentarmos influenciar o país em que nascemos, senão mesmo o mundo em que vivemos. E, se não começarmos a preparar a nossa entrada na vida adulta, agora que estamos tão perto, seremos esmagados pelos vários problemas da vida, sejam eles o mercado de trabalho, a maternidade/paternidade ou a entrada na universidade. Isto, sem falar naquelas questões mais abrangentes, relacionadas com a vida em sociedade.
O tempo urge (sim, são capazes de dizer que o tempo não passa depressa?) e nós ainda somos como peixinhos recém-nascidos na imensidão do oceano. Temos, portanto, de arranjar o máximo de defesas possíveis, de escolher as armas mais eficazes. Só que, em vez de dentes afiados e barbatanas compridas, temos de desenvolver o nosso bem mais precioso: o intelecto. Só assim poderemos resistir aos tubarões da vida.

Maria João Pinto nº 20 11ºC