quinta-feira, 20 de agosto de 2009

I -Ínicio

Estava a tentar escrever algo, naquela folha em branco, que me olhava de forma a torturar-me, desesperadamente...
Chateei-me... com o braço varri a secretária que se apresentava à minha frente, de forma brusca, peguei na caneta azul, atirei-a contra a parede... "Bah!"... Detestava sentir-me assim, sem inspiração... sem inspiração para escrever, sem sentimento para dançar... detestava sentir-me assim... cheia de sentimentos rebeldes... vazia de alma de artista...
Fechei todas as janelas do meu quarto, mergulhando numa escuridão assustadora e reconfortante...
Eu não tinha medo do escuro... apenas tinha medo da minha imaginação traiçoeira que desenhava monstros e fantasmas naquele véu negro. Misturei um tal de "Voldemort" com um "dementor" e ainda um tal de "James" e "Victoria"... Brilhante! Era tudo o que me faltava... Sem inspiração ideal, com imaginação fatal...
Levantei-me e fui até à varanda... Era noite cerrada... ao fundo um farol de um carro rompia as teias do escuro como breu... os pontos brilhantes convidaram-me a fechar os olhos... ouvi dois leves Bac's!... eram as minhas pestanas a embaterem ...

"Aquele rosto pálido impedia-me de concentrar... Tudo o que me rodeava era um nada que eu desconhecia completamente. Era eu.... uma simples mortal, ou assim eu julgava ser...
-De que tens medo? - era uma voz suave, acolhedora e ao mesmo tempo... assustadora e temível. Medonha.
Não lhe respondi. Não me apetecia. Não tinha vontade. E, bem no fundo, sabia que a minha teimosia levaria a melhor.
Fechei os olhos. Inspirei. Expirei. Virei as costas. Inspirei. Expirei. Abri os olhos.
Sem aqueles olhos dourados a olharem directamente os meus, consegui tomar consciência do sítio onde estava. Estava numa floresta. Densa. Verde. Com árvores. Era final de tarde. Assim achava. Mas prometi a mim mesma que não olharia para o relógio. Parecia ter medo de enfrentar o tempo. Não sabia como fora ali parar. Não fazia ideia.
- Como te chamas?
Bonito! Aquele anjo idiota e fascinante conseguira cortar a minha linha de pensamento.
- Eu sou o Angel... Angel Justin. E tu?
Angel??? Que nome mais patético... Considerava aquilo, no máximo, um adjectivo, não um nome próprio.
Virei-me novamente para o encarar. Aquele olhar... ai, aquele olhar...
Desatei à gargalhada, desenfreadamente. Tudo aquilo era ridículo. Aquele ser divinal e perfeito, a minha presença ali... Das duas uma: ou eu estava louca, ou eu estava... louca.
Ele olhava-me com um ar sereno, calmo. Como se compreendesse o que eu estava a sentir.
-OK... Estou louca!
Ups! O pensamento virou fala. Lá se foi a minha teimosia...
-Não... não estás... Estás apenas... inconsciente, Jessie.
-EU? INCONSCIENTE? COMO SABES O MEU NOME, SR. SEI TUDO E SOU PERFEITO???
Ele riu-se. Eu estava prestes a partir-lhe a cara e a reacção dele foi... rir-se.
Comecei a caminhar por aquela floresta, sem saber muito bem o percurso que iria tomar. Apenas tinha a certeza duma coisa: ia no sentido contrário daquele... Angel.
Rasguei a vegetação, sem olhar para trás. Vi um reflexo um pouco mais à frente. Aproximei-me para perceber o que era aquilo. Parei.
Um espelho alto surgia do nada, estando entre duas enormes árvores, provavelmente dois pinheiros enooooOOOOOrmes.
Olhei para a imagem que o espelho me dava a conhecer. Branca. Alta. Nem muito gorda, nem muito magra. Cabelos compridos, castanhos, ondulados pela humidade, desalinhados. Olhos acobreados. Vestido branco, sujo pelos salpicos de terra, rasgado. Uma das alsas descaída sobre o ombro esquerdo. Descalça. Atrás dela, estava ele. Branco. Mais alto que ela. Bem musculado. Cabelo curto, espetado, despenteado. Olhos dourados. Camisa branca, calças de ganga. A mão esquerda dele sobre o ombro direito dela. Ele. Ela. Nós.
- O que me aconteceu?
- Bem-vinda ao Mundo dos Sonhos, Jessie. "

Acordei, ofegante. Tudo aquilo era... demasiado real para ser real... Estava na varanda, ainda era noite.
Entrei no meu quarto, abri a porta do roupeiro e olhei para o espelho. Não estava branca, nem de cabelo desalinhado, nem de vestido branco. Nem ele pousava a sua mão sobre o meu ombro.
"Foi apenas um sonho.", pensei.
Mas fosse sonho ou não, nessa mesma noite, a inspiração emergira de mim.

JMF*10

1 comentário:

Jorge saraiva disse...

Um bom início... digo-te que a tua falta de inspiração levou-te a escrever um dos textos com bastante inspiração.
E digo-te mais, o teu texto revela um pouco a tua personalidade, os teus sentimentos,...

Jorge Saraiva